Estudo mapeia impacto cerebral do atentado de 11 de setembro

Dez anos depois, imagens do ataque terrorista ainda desencadeiam reações de ansiedade e estresse nos americanos, mesmo naqueles que não sofreram perdas diretas


Dois edifícios em Nova York, símbolos da hegemonia econômica e cultural dos Estados Unidos, vêm abaixo após o impacto de aviões contra sua estrutura – era 11 de setembro de 2001, data em que ficou registrada a vulnerabilidade da maior potência mundial frente ao ataque planejado pela organização fundamentalista Al Qaeda. O mundo assistiu perplexo às imagens do atentado, exaustivamente divulgadas por jornais e redes de televisão. Dez anos depois, a lembrança dos atentados desencadeia fortes reações emocionais nos americanos, mesmo naqueles que não perderam entes queridos no desastre. É o que mostra estudo publicado na Journal of Traumatic Stress.

Pesquisadores da Michigan University monitoraram o cérebro de 31 estudantes que viviam no estado de Massachusetts e não foram diretamente afetados pelo evento, enquanto olhavam para 90 fotos, várias delas de conteúdo “negativo” – isto é, imagens de prisões, de países em guerra, de pessoas enfermas ou em estado de miséria, e, obviamente, fotografias relativas ao ataque às torres gêmeas. Observou-se que regiões neurais relacionadas à ansiedade e ao estresse foram ativadas em maior intensidade quando os voluntários olharam para este último tipo de imagem.

“A amostra de participantes representa a população fora de Washington e Nova York, o que nos faz supor que cerca de 40% dos americanos apresentem sintomas de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) relacionado ao trágico episódio de setembro de 2001”, diz a psicóloga Ivy Tso, do Departamento de Psicologia Clínica da Michigan University, que conduziu o estudo. Entre os sintomas referidos por Ivy, estão dificuldades de concentração, ansiedade e preocupação em evitar eventos relacionados à fonte de estresse.

Segundo ela, tal estimativa, na verdade, subestima o real impacto da catástrofe sobre os americanos, pois os voluntários do estudo eram jovens, produtivos, que não perderam empregos nem parentes por causa do desastre. “A angústia que detectamos neles está claramente abaixo da do restante da população do país, principalmente da dos habitantes de Washington e de Nova York. Embora as reações mapeadas não tenham o mesmo grau das identificadas em pessoas com TEPT, as áreas cerebrais ativadas foram as mesmas”, diz a psicóloga.

Fonte: MenteCérebro

Abelhas sofrem oscilações de humor

Situações que causam medo diminuem níveis de determinados neurotransmissores e alteram o comportamento dos insetos


Alterações de humor podem ser facilmente detectadas em cães ou em gatos, por exemplo. A novidade é que talvez abelhas também vivenciem diferentes sentimentos ao longo do dia – mesmo sem terem córtex, amígdala e outras estruturas cerebrais normalmente associadas às emoções. Essa é a conclusão de um estudo coordenado pela zoóloga Geraldine Wright, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.

A princípio, os pesquisadores preparam cinco soluções com odores diferentes entre si, feitas com quantidades variadas dos compostos químicos hexanol e octanone, e adicionaram doses distintas de sacarose¬ – que é saborosa para as abelhas por ser doce – ou de quinino, uma substância amarga geralmente evitada por esses insetos. Depois de aprenderem a associar os odores às soluções, os animais responderam estendendo ou retraindo a probóscide (órgão do aparelho bucal, responsável por capturar os alimentos), de acordo com o que era oferecido. Em seguida, os cientistas estressaram metade das abelhas, colocando-as por um minuto em um equipamento que simula o tremor gerado na colmeia quando ela é atacada por predadores.

Por fim, os animais foram testados com as misturas de hexanol e octanone. Como previsto, os dois grupos eram mais propensos a avançar no alimento doce e evitar o amargo. Curiosamente, porém, os insetos que foram agitados se mostraram menos interessados nos odores intermediários, ao contrário do grupo de controle, que preferiam “arriscar” e experimentar o alimento. Segundo os pesquisadores, o estresse deixou as abelhas pessimistas, o que fez com que elas interpretassem o odor ambíguo como “meio amargo”, em vez de “meio doce”.

Os estudiosos observaram, ainda, que a simulação de ataque diminuiu os níveis dos neurotransmissores octopamina, dopamina e serotonina, responsáveis pelas sensações de calma, prazer e bem-estar. Além de ser importante para melhor compreensão sobre o comportamento das abelhas, a descoberta pode ajudar, futuramente, em pesquisas sobre depressão e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Fonte: MenteCérebro

Extremismo, narcisismo e delírios: a mente do atirador

Psicólogos examinarão o atirador norueguês, Anders Behring Breivik, para avaliar se o assassino confesso de 76 pessoas está em capacidades mentais de ser julgado.

Segundo a polícia e o próprio advogado de defesa, Breivik admitiu a autoria das mortes em Oslo e na ilha de Utoeya, mas não aceita responsabilidade criminal por elas – em outras palavras, não crê que deva ser punido por seus crimes.

“Ele acredita que foi atroz ter de cometer esses atos, mas na sua cabeça eles são necessários. Ele queria atacar a sociedade e a estrutura da sociedade”, disse à imprensa o seu advogado, Geir Lippestad. À primeira análise, salta aos olhos a ligação de Breivik com grupos de extrema-direita. Acredita-se que ele tenha passado anos planejando o ataque.

Mas o especialista Jeremy Coid, professor de psiquiatria forense do Queen Mary College, da Universidade de Londres, acredita que esta ideologia oculta transtornos mentais mais profundos na mente do atirador.

“Ao mesmo tempo em que existem coincidências com uma ideologia de extrema-direita, acredito que ele deva sofrer também de um transtorno mental, porque ele ultrapassa a fronteira desta ideologia”, disse o especialista.

Para o especialista, “é claramente alguém que nutre uma enorme raiva – e a fonte desta raiva precisa ser descoberta”.

“O fato é que nesse momento não conhecemos suficientemente as suas motivações que nos permita fazer um diagnóstico de seu estado mental.”
Documento assustador

Investigadores estão analisando a coerência do atirador em um manifesto de 1,5 páginas mil explanando as suas visões lançado na internet pouco antes do ataque.

“É um dos documentos mais assustadores que já li”, disse à BBC o psicólogo forense Ian Stephen. “Foi escrito por um homem absolutamente meticuloso no desenvolvimento de sua filosofia.”

Stephen disse que ficou impressionado com a demonstração de empenho de Breivik . “Ele obviamente se trancou um bom tempo lendo, estudando, pesquisando na internet e formulando essa política de ódio”, disse.

Para especialistas, é possível traçar paralelos entre o atirador da Noruega e o autor de uma série de ataques a bomba alvejando as comunidades negra, asiática e gay em Londres em 1999.

O autor dos ataques, David Copeland – que havia colocado bombas de pregos em áreas de Londres com alta concentração de negros, bengalis e gays -, foi acusado de nazismo porque dizia crer em uma raça superior.

Entretanto, independentemente da ideologia, os exames mentais feitos em Copeland comprovaram que ele sofria de esquizofrenia paranóica.

“O ataque na Noruega segue a mesma linha, no sentido de que visões de extrema-direita se misturam com psicose paranóica ou transtornos delirantes”, diz o professor Coid.

“Às vezes a ideologia que serve de base não é particularmente bizarra, e essas pessoas podem passar desapercebidas. Com o tempo, fica claro que o que está se desenrolando na cabeça delas é muito errado.”

No julgamento de Copeland, em 2000, a promotoria se recusou a aceitar que ele fosse julgado por homicídio culposo – sem a intenção de matar – e o réu foi condenado por assassinato.
Transtornos

No caso de Breivik, os especialistas vão analisar diferentes aspectos da personalidade do acusado para avaliar o seu estado mental.

O professor Coid explica daí podem sair três diagnósticos: que o atirador sofre de uma psicose paranóica, delirante ou não; que tem uma personalidade com narcisismo agudo; ou que tem um transtorno de personalidade esquizofrênico.

Uma das questões importantes diz respeito a como o atirador se percebe. Em fotos divulgadas após o incidente, ele aparece usando uniformes militares e característicos dos maçons. Em outras imagens, é fotografado bem vestido e com aspecto bem apessoado.

“Ele aparece com um aspecto bastante grandioso. Esta é uma característica freqüente de uma personalidade paranóica e delirante”, diz o professor Coid.

Os médicos também querem determinar se Breivik sofre de narcisismo agudo, sua propensão a estar no centro das atenções. “Ele claramente gosta de usar uniformes e medalhas”, diz o especialista.

“Quando alguém com uma personalidade narcisista comete uma atrocidade, é normalmente depois de um episódio em que sua psique se sente ferida. O ataque pode ser uma vingança narcisista. Mas neste caso parece haver um nível muito mais profundo. Todas os indicadores são de um transtorno delirante.”

Os psiquiatras também avaliarão os relacionamentos de Breivik para saber se ele mantinha alguma ligação próxima com indivíduos – por exemplo, com uma namorada.

“Eu gostaria de saber se no passado ele já teve alguma amizade íntima em termos normais, e se desde então o seu estado mental se deteriorou”, diz Coid.

“Se ele nunca teve nada disso, então talvez estejamos diante de um caso como o do Unabomber, que vivia totalmente isolado da sociedade.”

Já houve sugestões de que o atirador emprestou parte de suas ideias e seus discursos do Unabomber, Ted Kaczynski, que está preso nos EUA por enviar bombas por correio que mataram três pessoas e feriram oturas 23 entre os anos 1970 e 1990.

Para Coid, “isto indicaria mais uma personalidade esquizofrênica: um indivíduo perfeitamente funcional, mas com uma forma de autismo e uma obsessão crescente com uma ideologia de extrema-direita”.

“Mas se formos defender na Justiça que ele sofre de doenças mentais, a promotoria dificilmente aceitaria. As pessoas acham que portadores de transtornos mentais são caóticos e descontrolados, e Breivik parece focado e organizado.”

Fonte: BBC Brasil

Tempo pode “curar” déficit de atenção e hiperatividade

Pesquisadores americanos sugerem que os sintomas do transtorno melhoram com o passar dos anos


Há 50 anos, acreditava-se que o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) existia apenas na infância. Já entre 1970 e 1980 especialistas passaram a considerar que o distúrbio persiste a vida toda. Agora pesquisadores defendem a existência de um ponto intermediário. Para chegar a essa hipótese, um grupo coordenado pelas psicólogas Prudence Fisher, da Universidade Columbia, e J. Blake Turner, do Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, revisou os registros de aproximadamente 1.500 crianças que haviam sido diagnosticadas com TDAH dois anos antes. Em seguida, comparou os dados com diagnósticos mais recentes e descobriu que mais de 50% das crianças obtiveram melhora nos casos isolados de hiperatividade ou falta de atenção. Já nas que apresentavam os dois sintomas simultaneamente, a melhora foi de 18% a 35%. Não foram observadas diferenças entre casos extremos e leves. Para as pesquisadoras, as descobertas sugerem que a atual definição do TDAH deveria ser mais específica: “Se a duração do transtorno não for considerada, podemos estar diagnosticando além do necessário”. Isso pode fazer com que crianças cujo comportamento irritante para muitos adultos – que provavelmente passará com o tempo – sejam rotuladas e medicadas desnecessariamente.

Fonte: Mente e Cérebro

Países mais ‘felizes’ têm maiores taxas de suicídio, diz estudo

Países em que as pessoas se sentem mais felizes tendem a apresentar índices mais altos de suicídio, segundo pesquisadores britânicos e americanos.


Os especialistas sugerem que a explicação para o fenômeno estaria na tendência dos seres humanos de se comparar uns aos outros.

Sentir-se infeliz em um ambiente onde a maioria das pessoas se sente feliz aumenta a sensação de infelicidade e a probabilidade de que a pessoa infeliz recorra ao suicídio, a equipe concluiu.

O estudo foi feito por especialistas da University of Warwick, na Grã-Bretanha, Hamilton College, em Nova York e do Federal Reserve Bank em San Francisco, Califórnia, e será publicado na revista científica Journal of Economic Behavior & Organization.

Ele se baseia em dados internacionais e em informações coletadas nos Estados Unidos.

Nos EUA, os pesquisadores compararam dados obtidos a partir de depoimentos de 1,3 milhão de americanos selecionados de forma aleatória com depoimentos sobre suicídio obtidos a partir de uma outra amostra, também aleatória, com um milhão de americanos.

Paradoxo

Os resultados foram desconcertantes: muitos países com altos índices de felicidade felizes têm índices de suicídio altos.

Isso já foi observado anteriormente, mas em estudos feitos de forma isolada, como, por exemplo, na Dinamarca.

A nova pesquisa concluiu que várias nações – entre elas, Canadá, Estados Unidos, Islândia, Irlanda e Suíça – apresentam índices de felicidade relativamente altos e, também, altos índices de suicídio.

Variações culturais e na forma como as sociedades registram casos de suicídio dificultam a comparação de dados entre países diferentes.

Levando isso em conta, os cientistas optaram por comparar dados dentro de uma região geográfica: os Estados Unidos.

Do ponto de vista científico, segundo os pesquisadores, a vantagem de se comparar felicidade e índices de suicídio entre os diferentes Estados americanos é que fatores como formação cultural, instituições nacionais, linguagem e religião são relativamente constantes dentro de um único país.

A equipe disse que, embora haja diferenças entre os Estados, a população americana é mais homogênea do que amostras de nações diferentes.

Utah e Nova York

Os resultados observados nas comparações mais amplas entre os países se repetiram nas comparações entre diferentes Estados americanos.

Estados onde a população se declarou mais satisfeita com a vida apresentaram maior tendência a registrar índices mais altos de suicídio do que aqueles com médias menores de satisfação com a vida.

Por exemplo, os dados mostraram que Utah é o primeiro colocado no ranking dos Estados americanos em que as pessoas estão mais satisfeitos com a vida. Porém, ocupa o nono lugar na lista de Estados com maior índice de suicídios.

Já Nova York ficou em 45º no ranking da satisfação, mas tem o menor índice de suicídios no país.

Ajustes

Para tornar mais justas e homogêneas as comparações entre os Estados, os pesquisadores levaram em consideração fatores como idade, sexo, raça, nível educacional, renda, estado civil e situação profissional.

Após esses ajustes, a relação entre índice de felicidade e de suicídios se manteve, embora as posições de alguns países tenham se alterado levemente.

O Havaí, por exemplo, ficou em segundo lugar no ranking ajustado de satisfação com a vida, mas possui o quinto maior índice de suicídios no país.

Nova Jersey, por outro lado, ocupa a posição 47 no ranking de satisfação com a vida e tem um dos índices mais baixos de suicídio – coincidentemente, ocupa a posição 47 na lista.

“Pessoas descontentes em um lugar feliz podem sentir-se particularmente maltratadas pela vida”, disse Andrew Oswald, da University of Warwick, um dos responsáveis pelo estudo.

“Esses contrastes sombrios podem aumentar o risco de suicídio. Se seres humanos sofrem mudanças de humor, os períodos de depressão podem ser mais toleráveis em um ambiente no qual outros humanos estão infelizes”.

Outro autor do estudo, Stephen Wu, do Hamilton College, acrescentou:

“Este resultado é consistente com outras pesquisas que mostram que as pessoas julgam seu bem estar em comparação com outras à sua volta”.

“Esse mesmo efeito foi demonstrado em relação a renda, desemprego, crime e obesidade”.

Fonte: BBC Brasil

Catherine Zeta-Jones se interna em um centro psiquiátrico para tratar bipolaridade

A atriz, casada com o também ator Michael Douglas, teve que passar os últimos seis meses de 2010 acompanhando a luta contra o câncer do marido. Ela diz que vai voltar às gravações de seus dois próximos filmes


Redação ÉPOCA, com Agência EFE

O assessor da atriz Catherine Zeta-Jones, de 41 anos de idade, informou nesta quarta-feira (13) que ela se internou em um centro psiquiátrico de Conneticut, nos EUA, para tratar de um transtorno bipolar. A atriz acompanhou durante seis meses a batalha de seu marido, Michael Douglas, contra um câncer na garganta.

“Após lidar com muito estresse no ano passado, Catherine decidiu se internar em uma clínica para tratar um transtorno bipolar do tipo 2”, disse o assessor em nota oficial. O transtorno bipolar do tipo 2 causa níveis elevados de excitamento e impulsividade que podem se alternar com episódios de depressão grave.

“Ela está se sentindo ótima e não vê a hora de voltar a trabalhar em seus dois próximos filmes”, afirma a nota.

Catherine deu entrada na instituição mental no último dia 6, e ficou cinco dias internada no hospital Silver Hill, segundo um amigo próximo da atriz que concedeu entrevista à revista People. “Catherine teve que aguentar a doença de Michael e foi difícil. Ela se internou porque vai começar a trabalhar e queria se certificar de que estava em plena forma, e está”, afirmou o amigo.

Michael Douglas, de 66 anos, anunciou em janeiro que havia ganhado a batalha contra o câncer após seis meses de sessões de quimioterapia e radioterapia.

LH

Fonte: Época

Uma nova geração de narcisistas

Martha Mendonça. Colaborou Maurício Meireles

Os jovens exigem de si e dos outros nada menos que a beleza absoluta. Até onde isso pode levar?

Foi em março do ano passado, pouco antes de o verão terminar, que o estudante paulistano F., de 16 anos, tomou a decisão: não haveria mais luz em seu banheiro. Ele não queria ver o próprio rosto refletido no espelho. Detestava sua imagem. Havia quase um ano que ele reclamava com a mãe, advogada, sobre suas “rugas” – pequenas linhas de expressão no canto dos olhos, praticamente imperceptíveis. “Meu filho sempre foi bonito, alvo de elogios de todos”, diz ela. “Mas, adolescente, começou a inventar imperfeições.” O estudante queria fazer tratamentos para ficar com a pele (que nem sequer tinha espinhas) “completamente lisa”. Implicava com os poros do rosto. Quando ele retirou as lâmpadas do banheiro, a mãe o levou a uma dermatologista, que acabou atuando mais como psicóloga do que em sua própria especialidade. “Receitei uns sabonetes para ele sossegar, mas passávamos as consultas conversando”, afirma a médica. “Cheguei a apresentá-lo a uma jovem atriz, paciente minha, para ele se convencer de que a pele perfeita dos famosos das revistas não existe na vida real.” Aos poucos, auxiliado por um psicólogo, F. dominou sua ansiedade. Hoje ainda consome hidratantes, mas dá mais atenção à faculdade de engenharia, recém-iniciada.

Histórias como a de F. estão chegando aos consultórios de dermatologistas e cirurgiões plásticos – além de nas salas dos psicólogos. Os adolescentes querem mudar o corpo, guiados por uma percepção estética exacerbada e irrealista. O belo não é mais suficiente para eles. Querem ser perfeitos: pele sem máculas, rosto sem assimetrias, cabelos iguais aos de seus ídolos. Com esse tipo de sensibilidade, pequenos defeitos (ou mesmo particularidades de origem racial) são motivo de vergonha ou depressão.

“Somos uma sociedade obcecada pela beleza, disposta a persegui-la a qualquer custo”, afirma Nancy Etcoff, psicóloga da Universidade Harvard. Pesquisadora do tema há duas décadas e autora do livro A lei do mais belo, ela diz que crianças e adolescentes atuais estão mais preocupados com a aparência do que em qualquer outro período da história. “É uma preocupação torturante e cotidiana”, afirma. Os americanos cunharam a expressão “geração diva” para definir os jovens e os adolescentes tomados pelo ideal da perfeição física. Na semana passada, uma pesquisa com 200 jovens americanos, realizada pela Universidade Rutgers-Canden, em Nova Jersey, constatou que aqueles que acompanham reality shows sobre cirurgias plásticas são mais propensos a realizar esse tipo de cirurgia. “O que os adolescentes pensam sobre seu corpo hoje vai contribuir para o próprio conceito de saúde que terão no futuro”, diz Charlotte Markey, uma das pesquisadoras. E não só nos Estados Unidos.

“O espelho está distorcido”, afirma o cirurgião plástico Ivo Pitanguy. “O adolescente está programado para captar informação e absorve como ninguém essa busca pela perfeição em nosso tempo.” Pitanguy acredita que vivemos a “era da visibilidade”, na qual a forma e a imagem são os valores sociais mais importantes. Em seu consultório e nas palestras, ele diz deparar com necessidades estéticas cada vez mais elaboradas, nem sempre “coerentes com a realidade”. Qual é a fração da juventude brasileira que vive essa tremenda ansiedade estética? Não se sabe, mas médicos e psicólogos sugerem que ela não se restringe apenas aos privilegiados. O imperativo da beleza atinge todos os grupos sociais, e cada um gasta o que pode. Uma pesquisa encomendada nos Estados Unidos pela Associação Cristã de Moços (YMCA, na sigla em inglês) descobriu que garotas pobres estão gastando em produtos e tratamentos de beleza um dinheiro desproporcional. Economizado, ele poderia garantir o pagamento da universidade. E o futuro profissional dessas garotas.

A ansiedade em torno da beleza já foi captada pela literatura. Uma sociedade em que todos são igualmente belos é o tema do best-seller Feios, do escritor americano Scott Westerfeld, lançado no Brasil pela Editora Record. O livro se passa num mundo imaginário, onde, ao completar 16 anos, todos têm direito a uma plástica radical que os tornará não apenas bonitos, mas perfeitos. As feições são corrigidas e a pele é trocada por outra, sem espinhas nem manchas. Os ossos são substituídos por uma liga artificial, mais leve e resistente. A partir daí, os adolescentes saem dos alojamentos da “Vila Feia” e passam a frequentar “Nova Perfeição” – uma região rica, de festas grandiosas e aventuras esportivas. Sonho de todo adolescente? “Não se pode negar que pessoas bonitas têm mais oportunidades de emprego, de amizade, de sucesso”, disse o escritor a ÉPOCA. “A beleza é hoje o maior referencial de nossa sociedade. A busca da perfeição tomou conta até de quem ainda não percebeu.”

Coordenadora do Laboratório de Doenças da Beleza da PUC-RJ, a psicóloga Joana de Vilhena diz que a percepção que os jovens têm do próprio corpo obedece a um misto de ambiente familiar e cultura. “Uma sociedade de espetáculo e de consumo como a nossa inunda o jovem de belas imagens e o incita a consumi-las”, afirma. Como dissociar a magreza cada vez mais visível de modelos e atrizes do boom de transtornos alimentares de nosso tempo? Estima-se que haja 100 mil adolescentes anoréxicos ou bulímicos no Brasil, sendo 90% mulheres de 12 a 20 anos.

Um novo tipo de distúrbio que vem sendo estudado na última década parece intimamente ligado à obsessão pela beleza dos adolescentes: o transtorno dismórfico corporal (TDC). Quem sofre de TDC não tem uma percepção adequada da própria imagem. Vê defeitos que não existem ou aumenta os existentes. Como consequência, o doente coloca aquela “imperfeição” no centro de sua vida e preocupa-se em tempo integral com a possibilidade de superá-la. Um dos exemplos de provável vítima desse tipo de transtorno foi o cantor Michael Jackson, que passou a vida refazendo sua aparência.

“O pedaço vira o todo”, diz a dermatologista Luciana Conrado, pioneira em estudos do TDC no país. Em 2003, ela constatou, em seu consultório, um número expressivo de jovens querendo tratamentos desnecessários. Acabou desenvolvendo uma tese de mestrado na Universidade de São Paulo (USP), na qual uniu as áreas de dermatologia e psiquiatria. “No Brasil, os adolescentes tendem a sofrer muito com a autoimagem por causa da diversidade e das misturas raciais, que produzem biotipos diferentes do padrão europeu, valorizado por eles”, afirma.


As gêmeas que adoram o espelho
As gêmeas curitibanas Mônica e Monique Sperandio são o reflexo uma da outra – mas, mesmo assim, não dispensam um bom tempo em frente ao espelho. Aos 16 anos, admitem ser obcecadas pela aparência. Desde meninas têm a mesma rotina semanal: maquiagem diária para sair de casa, chapinha três vezes por semana e compras no shopping a cada momento de folga – para aproveitar o cartão de crédito que ganharam da mãe. “Temos seis portas de armário cheias de roupas e sapatos”, diz Mônica, orgulhosa. No ano passado, pintaram o cabelo. Queriam muito ser louras, mas desistiram porque o cabelo ficou ressecado. Garantem que equilibram beleza e inteligência. “No ano passado lemos, juntas, 71 livros.” E afirmam, em dupla: “Não queremos ser burras, mas a beleza é fundamental”.

A garota que tinha de operar o nariz
Desde os 15 anos, a mineira Camila Taveira, hoje com 18, tenta convencer os pais a deixá-la operar o nariz. A adolescente chegou a criar uma comunidade no Orkut para falar com outros jovens com o mesmo desejo. No princípio, os pais foram contra. Mas Camila não desistiu. Diz que nunca se conformou com um “ossinho” na parte superior de seu nariz. “Nos lugares que eu frequento, a beleza é muito importante”, diz. Às vésperas de entrar na faculdade de estética e cosmetologia, reforçou a reivindicação: “Não posso entrar na faculdade com um nariz de que não gosto”. Os pais buscaram um bom médico em Belo Horizonte, onde moram, e a cirurgia foi feita. Agora Camila sonha com uma prótese de silicone nos seios. “São pequenos demais”, afirma. A mãe já disse que não. Por enquanto.

A insatisfação com a própria imagem tende a se agravar em populações que se afastam do padrão de beleza europeu, que se tornou dominante no planeta. Japoneses, indianos ou brasileiros são diferentes da referência europeia de pele branca, cabelo louro e liso, olhos claros e traços finos. Por isso sofrem para se adequar à estética valorizada na moda, na televisão e no cinema global. O resultado: acompanhados dos pais, de amigos da mesma idade ou mesmo sozinhos, os jovens brasileiros vão aos consultórios dos cirurgiões plásticos com fotografias de celebridades nas mãos. Garotos desejam nariz delgado como o do ator Zac Efron, ídolo da série High school musical, ou do atual príncipe do pop Justin Bieber. Meninas de 16, 17 anos tentam convencer os pais a pagar uma prótese de silicone ou um preenchimento nos lábios para ficarem com a boca de Angelina Jolie. Ou querem afinar o corpo em maratonas de lipoaspiração, citando as longilíneas Gisele Bündchen e Ana Hickmann.

Hoje, dizem os médicos, os adolescentes são, cada vez mais, adeptos da chamada “medicina por demanda”, a partir do termo inglês “treatment on demand”. É quando a intervenção não parte de um problema real, mas da existência de um cardápio de tratamentos possíveis. A existência da tecnologia impulsiona sua experimentação. “A maioria não precisa de plástica. Isso é percebido na primeira consulta”, diz o cirurgião mineiro Múcio Leão de Castro, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). “Cabe a nós termos paciência para explicar que não há necessidade ou que talvez seja cedo para mudanças. Mas raramente eles desistem.”A pesquisa de Luciana Conrado mostrou que nove de cada 100 pacientes de dermatologia sofrem de transtorno dismórfico corporal. Nos pacientes da cirurgia plástica, esse índice chega a 16%.

Nos últimos 15 anos, cresceu sete vezes o número de cirurgias plásticas em adolescentes de 14 a 18 anos no Brasil. Em 2009, foram 38 mil intervenções nessa faixa etária. Cirurgias de nariz, lipoaspiração e próteses de silicone são as mais procuradas. O consumo de produtos e serviços de beleza também cresceu. De acordo com a Associação da Indústria de Cosméticos (Abihpec), existe uma forte demanda por parte dos jovens de 14 a 17 anos. É nessa faixa que as mulheres mais usam gloss: 86% do total. Na mesma idade, 66% usam cremes para mãos e pés. Mais que um desejo íntimo e natural, corresponder aos rígidos padrões estéticos do grupo parece ser hoje a linha mestra do comportamento dos jovens. Uma pesquisa do grupo de mídia Turner Broadcasting no Brasil mostra que, para crianças e adolescentes de 8 a 14 anos, “estar na moda, ser bonito e namorar alguém bonito” são essenciais para a felicidade.

A obsessão pela beleza, claro, chegou ao divã do analista. É ali que os conflitos são verbalizados. Terapeuta de crianças e adolescentes, a psicóloga carioca Maria Tereza Maldonado diz que os grupos de jovens formaram uma espécie de “patrulha da beleza” – para si e para os outros. “Eles não apenas querem ser bonitos. Só namoram pessoas bonitas e criticam quem se relaciona com alguém fora do padrão”, afirma a psicóloga. Quem se relaciona com um jovem considerado feio ou feia é motivo de chacota. Nessa atmosfera de polícia estética, muitos preferem não ir a festas se nasce uma espinha inesperada – uma neurose competitiva que transborda para o padrão de consumo. Uma paciente de 12 anos, conta Maria Tereza, se dizia desesperada quando não conseguia comprar as novidades da moda antes de suas colegas. Segundo a psicóloga, autora do livro Comunicação entre pais e filhos, existe competição entre amigos e “autocobrança doentia” dos adolescentes em relação ao corpo e ao consumo. “A adolescência é o período em que é importante pertencer, ser aceito”, afirma. “Há uma preocupação com detalhes ínfimos da aparência. Beleza virou caso de vida ou morte.” Na pesquisa sobre comportamento adolescente do grupo Turner, os jovens responderam que o que mais admiram em seus namorados é “beleza”. “Gostar de mim” ficou em segundo lugar, com 24%.

Ele faz sobrancelha e limpeza de pele
“Adoro chamar a atenção”, diz o estudante de publicidade Gustavo Rodrigues, de 17 anos. Ele já nasceu bonito – tanto que foi parar no site de uma revista jovem, amparado pelos votos de meninas de sua cidade, Sorocaba, interior de São Paulo. Mas nunca se descuida. Comprar roupas, ele conta, é sua diversão. “Para sair de casa, faço uma produção de pelo menos 40 minutos. Isso porque eu escolho rápido. Tenho 15 pares só de tênis”, afirma. Se o estudante tem espinhas, disfarça com base ou corretivo. Gustavo só usa xampu especial, vai a um bom cabeleireiro uma vez por mês – e aproveita a ida ao salão para fazer o desenho da sobrancelha e uma limpeza de pele. “As garotas me adoram”, diz ele. “E, pelo jeito, os garotos também, porque estão sempre tentando imitar meu estilo.”

A obsessão pela beleza ganha força no mundo virtual. O site de relacionamento Beautiful People – conhecido como “Orkut dos bonitos” – já tem 600 mil usuá­rios de 190 países. Não é qualquer um que pode entrar. Os candidatos mandam uma fotografia e recebem votos daqueles que já foram aceitos. Cerca de 75% são “reprovados”. Coordenadora dos estudos de mídia da Sociedade Brasileira de Psicanálise, Suely Gevertz diz que a internet é um espaço adequado para quem vive em conflito com o corpo real. No mundo virtual, as pessoas se relacionam de forma íntima, mas sem corpo. O contato é feito por meio de mensagens e de imagens – quase sempre selecionadas e transformadas. “É um contato desencarnado”, diz ela. “Nos meios digitais, o contato é livre das imperfeições do corpo físico.”

Os especialistas dizem que a personalidade do adolescente obcecado pela beleza não pode ser dissociada dos valores da família em que foi criado. Os pais dos adolescentes que chegam aos consultórios foram jovens da década de 1980 e romperam com a filosofia hippie de paz, amor e recusa ao materialismo. Esses adultos são mais bem descritos como yuppies – conservadores, ambiciosos, vaidosos, ligados em moda.

Nessa mesma época, mulheres fincaram raízes no mercado de trabalho e se tornaram o motor principal do consumo, inclusive dos produtos de beleza e dos vídeos de ginástica como os de Jane Fonda. A historiadora Mary del Priore, autora do livro Corpo a corpo com a mulher, lembra que, nos anos 90, quando essa geração se tornou adulta, houve a popularização da TV a cabo e a proliferação dos canais de compra – a grande maioria voltada para moda, serviços estéticos e aparelhos de ginástica. “A mensagem passou a ser direta: seu corpo inteiro é consumidor de produtos específicos”, diz Mary.

Nos anos 2000, o avanço tecnológico que desenvolveu a cosmética e barateou os tratamentos e as cirurgias estéticas foi o passo que faltava para a beleza ganhar o primeiro lugar no pódio dos valores de classe média.

“Hoje em dia a beleza é tudo”, afirmou, tempos atrás, uma mãe americana no programa da apresentadora Tyra Banks, um dos que atingem maior audiência nos Estados Unidos. O tema era as mulheres que gastam fortunas em produtos cosméticos para suas crianças. A loura cujo vídeo ganhou a internet calculava ter desembolsado mais de US$ 80 mil com o casal de filhos que, pelas imagens, não tinham mais de 10 anos.

“Pedicure, manicure, tratamentos faciais, xampus especiais, cremes hidratantes para todo o corpo”, disse, enumerando mais de uma dezena de cuidados impostos às crianças. E não se trata de um caso único de insanidade. No começo deste ano, rodou o mundo a notícia sobre a britânica Sarah Burge, que costumava injetar Botox no rosto da filha adolescente. Apelidada de Barbie Humana, por já ter feito mais de 100 intervenções estéticas, Sarah explicou que a demanda era da menina, Hannah. A garota confirmou aos jornais. “Eu tinha duas linhas na testa e também ao lado da boca. Aparência é importante para mim. Não quero ficar horrorosa aos 25 anos”, disse.

Hannah tem apenas 16 anos. O que será dela aos 25 ou 35 anos? A tendência, segundo os especialistas, é que ela se torne uma adulta excessivamente preocupada com a própria aparência. Uma consumidora voraz de produtos e serviços para o corpo. Uma escrava da moda, talvez. Na adolescência se internalizam valores (ou autoimagens) que, se não forem postos em xeque, acompanharão (ou assombrarão) cada um de nós pelo resto da vida. Hannah, assim como seus colegas de geração e de obsessão brasileiros, pode passar o resto da vida tentando inutilmente sair da Vila Feia e entrar na Nova Perfeição. Sem perceber que há milhares de coisas melhores e mais importantes na vida do que cuidar da própria aparência.

Quando a beleza vira obsessão

Identifique os sinais de possíveis problemas

Espelho
Nada mais comum do que adolescentes prestarem atenção no próprio reflexo. O que deve ser observado é a reação que eles têm ao fazê-lo. Tudo bem para pequenas e frequentes checadas com bom astral. O problema é quando se olham muito tempo no espelho – e demonstram, quase sempre, insatisfação. Isso vale tanto para a verbalização desse desagrado quanto para a mudez e a tristeza. E mais ainda quando, depois de se olharem no espelho, desistem de programas por causa do cabelo que não está bom ou de uma espinha que apareceu de repente.

Imagem distorcida
Sua filha é magra, mas se acha gorda? Seu filho é um belo rapaz, mas cisma que tem um nariz feio ou rugas irreais em torno dos olhos? A repetição desse tipo de comportamento com consequências graves para o dia a dia condiz com o chamado transtorno dismórfico corporal. Quem tem esse distúrbio psicológico constrói uma autoimagem que não corresponde à realidade.

Consumo
A adolescência é o momento em que o indivíduo começa a ligar para sua aparência. Mas fazer do desejo por uma roupa ou um tênis um cavalo de batalha pode estar escondendo valores estranhos. O mesmo para cosméticos ou maquiagem, no caso das meninas. Uma penteadeira lotada de cremes ou xampus para cada ocasião não condiz com o momento de meninas e meninos. Adolescentes deveriam estar loucos para experimentar o mundo lá fora, e não o mais novo produto da cosmética internacional. O próximo passo poderá ser o pedido para uma cirurgia plástica.

Namoros
Beleza sempre pôs mesa e não é incomum que adolescentes desfilem com namorados (as) bonitos (as) como troféu. Mas nas relações de seu filho ou filha não há ninguém menos que “perfeito”? Ou simplesmente ele (ou ela) não namora e vive comentando os pares feios que seus amigos escolheram? A patrulha da beleza atrapalha a vida social e afetiva dos jovens, especialmente nos primeiros anos da adolescência, quando imaginam que são (e muitas vezes são) julgados pelos amigos.

Fonte: Época

Maconha aumenta o risco de psicose, diz pesquisa

Da BBC Brasil

A pesquisa é mais uma prova de que o uso da maconha contribui para formas de psicoses como a esquizofrenia, diz psiquiatra

Pessoas que consumiram maconha na adolescência ou no início da vida adulta enfrentam maior risco de apresentar sintomas de psciose mais tarde, afirma um estudo recém-divulgado.

A pesquisa, realizada pelo professor Jim van Os, da Universidade de Maastricht, da Holanda, foi feita na Alemanha, e contou ainda com pesquisadores da Suíça e do Reino Unido.

A psicose é uma desordem mental na qual o indivíduo perde o contato com a realidade.

O estudo, publicado na revista especializada British Medical Journal, acompanhou um total de 1.923 pessoas ao longo de um período de dez anos.

Apesar de as relações entre maconha e psicose já serem conhecidas, ainda não estava claro se era a maconha que desencadeava os sintomas dessa condição ou se as pessoas se sentem propensas a consumir a droga devido a seus sintomas. A pesquisa indica que a primeira hipótese é a mais provável.

Estudo

Os participantes da pesquisa tinham entre 14 e 24 anos. Eles foram avaliados em períodos distintos para aferir possíveis relações entre o uso de maconha e de manifestações de sintomas psicóticos.

O primeiro período estudado foi feito três anos após o início da pesquisa. A segunda amostragem ocorreu oito anos depois que a pesquisa começou. E a conclusão ocorreu dez anos após o começo do estudo.

Os pesquisadores colocaram os que já fumavam maconha em um grupo e excluíram os que apresentavam um quadro pré-existente de psicose, para que pudessem melhor estabelecer as ligações entre novos usuários de maconha e a apresentação de sintomas da doença.

A pesquisa também teria mostrado que aqueles que já fumavam maconha na época do começo da pesquisa enfrentariam riscos mais elevados de apresentar sintomas psicóticos persistentes.

Aumento

O estudo concluiu que o uso de maconha aumenta ”significativamente” a incidência de sintomas psicóticos, mesmo quando outros fatores, como situação sócio-econômica, o uso de outras drogas e de condições psiquiátricas estão em jogo.

Além de afirmarem que o uso da maconha é um fator de risco para o desenvolvimento de sintomas psicóticos, os cientistas envolvidos com a pesquisa disseram também que ”o uso repetido de maconha pode aumentar o risco de sofrer desordens psicóticas por ter impacto na persistência dos sintomas.

De acordo com Robin Murray, professor de pesquisa psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Reino Unido, a pesquisa representa ”mais um tijolo no muro de provas”, de que o uso da maconha contribui para formas de psicoses como a esquizofrenia.

Segundo Murray, a pesquisa é um dos dez estudos similares que apontam nessa mesma direção.

Via Uol

Estudo liga uso de games a depressão, ansiedade e problemas de relacionamento

Pesquisador diz que serviços de saúde não prestam atenção suficiente no problema

Getty Images

Pode haver problemas por trás dos olhares fixos da garotada que dedica tempo e energia demais aos videogames. Uma pesquisa feita na Ásia com 3.000 crianças em idade escolar indicou que uma em cada dez era “viciada” em games.

Segundo os pesquisadores, apesar de as crianças já apresentarem problemas comportamentais, o uso excessivo de videogames aparentemente agravou os distúrbios. De acordo com Douglas Gentile, diretor do laboratório de pesquisa de mídia da Universidade do Estado de Iowa, “quando as crianças se viciam, depressão, ansiedade e fobias sociais se agravam”.

– Quando elas conseguem superar o vício, esses problemas melhoram.

Ele diz que nem os pais nem os serviços de saúde estão prestando atenção suficiente nos efeitos dos videogames sobre a saúde mental das crianças.

– Tendemos a abordá-los como entretenimento, como apenas um jogo, e a esquecer que o entretenimento também nos afeta. De fato, se não nos afeta, o definimos como “entediante”.

No levantamento, as crianças disseram que jogavam videogame, em média, por 20 horas por semana. Entre 9% e 12% dos meninos foram considerados como viciados pela pesquisa, contra 3% a 5% no caso das meninas.

Apesar de os pesquisadores não terem definido um percentual de crianças que sofrem com esses distúrbios mentais, eles encontraram evidências que relacionam o número de horas jogadas a um comportamento impulsivo e problemas de relacionamento social.

Mas um especialista independente afirmou que existem sérios defeitos na pesquisa. Mark Griffiths, diretor do Centro de Pesquisas sobre Games da Universidade Nottingham Trent, no Reino Unido, diz que “pesquisas demonstraram que jogar videogames excessivamente não constitui necessariamente vício e que muitos usuários podem jogar por longos períodos sem que sofram quaisquer efeitos adversos”.

– Se 9% das crianças fossem realmente viciadas em videogames, haveria clínicas para o tratamento disso em toda cidade grande.

Parte do problema, ele diz, é que o novo estudo pode ter medido interesse e não vício.

Copyright Thomson Reuters 2011

Via R7

Narcisismo será retirado da “bíblia” dos transtornos psiquiátricos

Por Charles Zanor*
The New York Times

O narcisista sempre espera que os outros reconheçam e falem sobre suas qualidades

Os narcisistas, para a surpresa da maioria dos especialistas, estão quase se tornando uma espécie em extinção. Não que eles estejam encarando uma extinção iminente. O destino será muito pior. Eles ainda existirão, mas serão ignorados.

A quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (previsto para ser lançado em 2013, e conhecido como DSM-5) eliminou cinco dos dez transtornos de personalidade que estão listados na edição atual.

O distúrbio de personalidade narcisista é o mais conhecido entre os cinco, e sua ausência tem causado muito alvoroço entre os profissionais da saúde.

A maioria dos leigos tem uma boa ideia do que seja o narcisismo, mas a definição formal é mais precisa do que o significado encontrado no dicionário.

Nossa imagem cotidiana de um narcisista é de uma pessoa muito egocêntrica – a conversa sempre gira em torno dela. Embora não se aplique a pessoas com distúrbio de personalidade narcisista (DPN), essa caracterização é muito ampla. Existem pessoas completamente egocêntricas que não se qualificariam no diagnóstico de DPN.

O requisito principal para o DPN é um tipo especial de autoabsorção: um senso grandioso de autoestima, um sério erro de cálculo de suas próprias habilidades e potenciais que é muitas vezes acompanhado por fantasias de superioridade. É a diferença entre dois estudantes com capacidade moderada que jogam beisebol: um é absolutamente convencido de que será um jogador da liga principal, e o outro espera por uma bolsa de estudos para cursar a faculdade.

É claro, seria prematuro chamar o primeiro estudante de narcisista nesta idade, mas imagine o mesmo tipo de atitude incessante e irrealista 10 ou 20 anos mais tarde.

O segundo requisito para o DPN: visto que o narcisista é tão convencido (a maioria são homens), ele automaticamente espera que os outros reconheçam e falem sobre as suas maiores qualidades. Isso é geralmente conhecido como “espelhamento”. Ele não se contenta em saber que é bom. Os outros devem confirmar isso, rápido e com frequência.

Finalmente, os narcisistas, que desejam a aprovação e a admiração dos outros, não têm noção sobre como as coisas parecem da perspectiva dos outros. Os narcisistas são muito sensíveis ao serem ignorados ou menosprezados, mas dificilmente reconhecem quando estão fazendo isso com os outros.

A maioria de nós concordaria que este é um perfil facilmente reconhecível, e é uma incógnita o porquê o manual do comitê sobre distúrbios de personalidade decidiu tirar o DPN da lista. Muitos especialistas da área não estão felizes com isso.

Na verdade, eles também não estão felizes com a eliminação de outros quatro distúrbios, e não têm vergonha de dizer isso.

Um dos críticos mais renomados do comitê sobre distúrbios de personalidade é o psiquiatra de Harvard, Dr. John Gunderson, antigo na área, foi quem conduziu o comitê de distúrbios de personalidade para o manual atual.

Questionado sobre o que achou sobre a eliminação do DPN, ele disse que o manual apenas mostrou o quão “ignorante” é o comitê.

“Eles têm pouco conhecimento sobre o dano que podem estar causando”. Disse também que o diagnóstico é importante para organizar e planejar o tratamento.

“É perversa”, disse sobre a decisão, “e creio que é a primeira que elimina metade de um grupo de distúrbios pelo comitê”.

Ele também culpou a chamada abordagem dimensional, um método de diagnóstico de distúrbio de personalidade que é novo para a DSM. Consiste em fazer um diagnóstico global e geral do distúrbio da personalidade para um determinado paciente, e então, selecionar traços particulares de uma longa lista para melhor descrever aquele paciente específico.

Isto é um contraste com a abordagem que tem sido usada há 30 anos: a síndrome narcisista é definida por um conjunto de traços relacionados, e o paciente é classificado naquele perfil.

A abordagem dimensional tem o apelo de um pedido à la carte _você pede o que quer, nada mais e nada menos.

Uma coisa é chamar alguém de elegante e bem vestido. Outra coisa é chamar de almofadinha. Cada um desses termos tem significados levemente diferentes e evoca um tipo.

E os médicos gostam de tipos. A ideia de substituir o diagnóstico padrão do DPN pelo diagnóstico dimensional como “distúrbio de personalidade com traços narcisistas e manipuladores” não vai dar certo.

Jonathan Shedler, psicólogo da Faculdade de Medicina da Universidade de Colorado, disse: “Os médicos estão acostumados a pensar em termos de síndromes, e não traços separados. Já os pesquisadores pensam em termos de variáveis, e há simplesmente uma cisma enorme”. Ele disse que o comitê foi formado “por vários pesquisadores acadêmicos que não atuam muito na prática clínica. Vemos ainda outra manifestação do que é chamado na psicologia de cisma na prática da ciência”.

Cisma provavelmente não seja um exagero. Há 30 anos o DSM tem sido o padrão inquestionável que os médicos consultam ao diagnosticar distúrbios mentais. Quando um novo diagnóstico é introduzido, ou um diagnóstico estabelecido é substancialmente modificado ou excluído, isso não é pouca coisa. Como disse Gunderson, isso afetará a maneira como os profissionais pensam e tratam seus pacientes.

Levando isso em consideração, a falta de informação dos especialistas em distúrbios de personalidade não deverá ser novidade.

Gunderson escreveu uma carta co-assinada por outros pesquisadores e médicos à Associação Psiquiátrica Americana e à força-tarefa que dirige a DSM-5. Além disso, Shedles e sete colaboradores publicaram um editorial na edição de setembro da Revista Americana de Psiquiatria.

Em um mundo relativamente pequeno de diagnósticos de saúde mental, esta é uma batalha que certamente vale a pena assistir.

Agora, está claro que é muito cedo para os narcisistas desistirem do seu lugar na lista.

* Charles Zanor é psicólogo em West Springfield, Massachusetts, EUA.

Fonte: Uol